#algarve2020 || EM DESTAQUE || Maio. 2023

Já havia uma incubadora na Universidade do Algarve. Há um ano deu-se o passo seguinte. Foi criada uma Aceleradora de empresas, para apoiar a internacionalização de projetos na área das Tecnologias da Informação. O Polo da Penha assume-se assim como um campus tecnológico, que além de firmas nacionais, alberga também projetos de gigantes multinacionais, como a Deloitte e a Atos. Este ecossistema de diversificação económica cresce num edifício quase autossuficiente do ponto de vista energético.  

A sensação é a de ter caído num sono profundo e o despertar ter acontecido anos depois, num mundo diferente. Para quem teve ou deu aulas no edifício conhecido como Complexo Pedagógico, no Campus da Penha da Universidade do Algarve, entrar agora por aquela porta assemelha-se a uma realidade paralela. Os corredores longos e monótonos, ladeados por uma extensa fila de paredes de pladur e portas brancas, já não existem. Não há salas de aula. Paredes foram derrubadas e deram lugar a espaços amplos, modernos e adaptáveis. Em algumas  áreas impera o vidro, que se deixa atravessar pela luminosidade dos dias algarvios. No chão e nalgumas paredes foram traçadas linhas e círculos , como quem convida a seguir um caminho e ir descobrindo os outros espaços.

Aqui e ali surgem caras conhecidas, de gente que andou por aqueles corredores há alguns anos, mas noutras funções. Muitos já não são alunos. Desenvolvem agora a atividade profissional naquele espaço com cheiro a novo, numa das vinte e três empresas que se instalaram no que é agora o UALG TEC CAMPUS.

Um ano depois de ter sido inaugurado – em Março de 2022 – , o Pólo Tecnológico, criado para funcionar como acelerador de empresas, já cortou a meta. ”Os objetivos do projeto estão todos cumpridos. A meta era recebermos 20 empresas e já vamos nas 23, sendo que algumas das que começaram entretanto já cresceram, saíram e deram lugar à entrada de novas”. João Rodrigues, vice-reitor, explica o caminho feito até aqui: “há uns anos, o número de alunos inscritos decresceu. Andava perto dos 7700. Havia aulas no Complexo Pedagógico, mas o edifício estava a ser pouco utilizado e vimos ali a oportunidade de avançar para esta iniciativa”.

A experiência com a incubadora de empresas tinha corrido bem, mas era uma solução para pequenos empreendedores que estão a começar do zero. O passo que se seguiu foi a criação do polo tecnológico, na Penha, para albergar empresas já consolidadas e com ambição de crescimento. “A ideia do Ualg Tec Campus é criar uma aceleradora de empresas de Tecnologia de Informação e Comunicação Eletrónica e ajudá-las na internacionalização”, acrescenta João Rodrigues.

Apesar de funcionar na universidade, o projeto engloba também sete autarquias, o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, a Associação Nacional de Jovens Empresários, a Algarve Evolution, que representa empresas do setor tecnológico e digital no Algarve, e ainda a Docapesca. Entidades que integram a Algarve STP (Algarve Systems and Technology Partnership Association), responsável pela gestão e dinamização do Tec Campus e que assegura o interface Universidade-Empresa. 

Espaço para grandes e pequenos

No edifício, há agora espaço para pequenos e grandes. A estrutura foi adaptada a módulos de cerca de 36 m2, que são disponibilizados consoante o tamanho e as necessidades de quem lá se quer instalar. Podem chegar aos 500m2.

Do grupo constam duas multinacionais: a Deloitte e a Atos. Ambas ligadas à Universidade do Algarve através de cursos e formação.

“No caso da Deloitte, está na aceleradora com o projeto Brightstart. Nós damos a formação na área das tecnologias informáticas, fazemos  a transferência de conhecimentos, eles pagam as propinas e dão uma pequena bolsa aos alunos”, explica João Rodrigues. “Já a Atos tem trabalhado connosco essencialmente na formação e reconversão profissional”.  

No primeiro ano de funcionamento, as 21 empresas que até ao final de 2022 estavam no espaço, receberam 18 colaboradores oriundos da Universidade do Algarve e um total de 34 estagiários. Somam-se depois os funcionários das diferentes firmas, que trabalham no espaço ou remotamente. No total há capacidade para 400 pessoas. 

Para se conseguir um lugar no Tec Campus, não basta querer. Há uma seriação dos candidatos e cada um tem de apresentar um plano de como pretende interagir com a universidade “desde estágios, participação em projetos e atividades de formação nos nossos cursos”, exemplifica o vice-reitor. “Passados três anos, é avaliado o cumprimento dessas diretivas. Se não tiverem sido cumpridas, o fee pago pela utilização do espaço aumenta. Se ao sexto ano na Aceleradora, os pressupostos continuarem por cumprir, a empresa terá de dar lugar a outra”.

Eficiência energética de dentro para fora

A maior parte das empresas no Ualg Tec campus teve origem no Algarve. Muitas na própria universidade. É o caso da MTI – Managing the Intelligence. A empresa que desenvolveu hardware e software vocacionada para a eficiência energética de unidades hoteleiras começou a partir de  uma parceria com o Instituto Superior de Engenharia (ISE) ,”com financiamentos comunitários, através do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) e por Fundos Europeus de Desenvolvimento Regional”, recorda o professor Jânio Monteiro, do ISE. 

Miguel Silva, o responsável pelo projeto que se transformou numa Spinn-off e depois migrou para o Tec Campus explica que a integração da MTI na Aceleradora veio ajudar à internacionalização: “já temos 1500 dispositivos instalados em várias unidades de alojamento turístico, como alguns hotéis Vila Galé, Grande Altis Lisboa, Pestana, AP Hotels, etc. e preparamo-nos agora para entrar na Andaluzia, em Espanha”. Inglaterra e Itália poderão seguir-se. 

“A solução MTI – Smart Room permite aos clientes poupar até 50% nos custos de energia elétrica“. Miguel Silva sublinha também o conforto térmico para o hóspede, assegurado  através de dispositivos IoT (internet of things) e dispositivos eletrónicos de controlo com algoritmos de Inteligência Artificial.

 O  ar  condicionado nos quartos, por exemplo, passa a funcionar de forma inteligente. “Os sensores  permitem perceber se há pessoas no quarto ou janelas abertas. O sistema liga-se ou desliga-se, pode adaptar a temperatura e até começar a refrescar o quarto quando introduzida informação sobre uma entrada de hóspedes”. 

Tal como esta empresa voltada para a eficiência energética, o próprio edifício que a acolhe foi intervencionado também nessa lógica. Janio Monteiro, especialista em Engenharia Elétrica e de Computadores, que acompanhou a criação do Pólo Tecnológico acrescenta: “o Tec Campus está dotado de mecanismos de monitorização de energia e foi pensado para ser o mais autónomo possível. Além das soluções de isolamento, foram instalados painéis fotovoltaicos que, em determinadas horas do dia, asseguram quase a autossuficiência do Campus da Penha. Em Gambelas, o consumo é maior. Com o apoio de fundos europeus geridos pela CCDR Algarve, também caminhamos para a autossuficiência em Gambelas”.

João Rodrigues acrescenta que, para o edifício do Tec Campus ser completamente sustentável, faltam as baterias que possam armazenar a produção fotovoltaica de forma a assegurar energia, por exemplo, à noite. ”Das 9 horas às 3 da tarde, o Campus não gasta energia. Infelizmente, não estamos a sentir isso na fatura energética. Estamos a gastar menos energia, mas a pagar mais pela que consumimos”.

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