#algarve2020 || EM DESTAQUE || Maio. 2023

A escolha tinha de ser feita entre a autonomia energética e a instalação de uma nova linha de montagem. E havia ainda a ideia de desenvolver nova tecnologia. Na hora de decidir por onde avançar, os incentivos do CRESC Algarve 2020 deram a confiança à Hubel para acelerar em todas as frentes: sustentabilidade e soluções para a agricultura, a indústria e as cidades do futuro.

Peça a peça, fio a fio, os componentes vão-se “arrumando” que nem livros em prateleiras de uma pequena biblioteca. Dentro daqueles armários metálicos com cerca de 6 metros quadrados, quatro mãos tecem em rigor paciente o quadro elétrico do sistema de telegestão da rega e da ventilação de um dos mais recentes e vanguardistas projetos de produção de cannabis medicinal do país, em instalação em Pegões.

“É a agricultura do futuro”, observa Tiago Andrade, diretor executivo da Hubel, que acompanha os últimos trabalhos deste que é já o terceiro projeto a ganhar forma na nova linha de montagem da empresa sedeada em Pechão.

Os engenheiros da Hubel já vinham ali desenvolvendo, desde 2014, a programação dos sistemas de telegestão para agricultura, indústria e cidades inteligentes. A isso, vieram a acrescentar o desenvolvimento da plataforma que permite controlar e monitorizar cada dispositivo agregado a estes sistemas num computador ou mesmo através de um dispositivo móvel. “Faltava-nos agora ter esta capacidade de assemblagem do hardware para sermos mais competitivos em soluções integradas”, explica o executivo.

Nova linha de montagem para ser mais competitivo

A linha de montagem foi instalada no final de 2022 e, dali, já saíram 3 quadros elétricos de sistemas de telegestão do Município de Alcochete e um para uma estação elevatória da Águas do Algarve. Mas podia não ter saído nenhum, porque, apesar do apetite pela inovação estar presente nos 40 anos de história do grupo, “esta parte de crescimento do negócio teria provavelmente de esperar”, conta Tiago Andrade, fazendo referência aos 173 mil euros investidos, numa altura em que a transformação da sede em edifício verde estava a alocar outro investimento de 167 mil euros.

“Não fosse o apoio do CRESC Algarve 2020 [86 mil euros no primeiro projeto e 67 mil no segundo], teríamos de optar entre projetos e, garantidamente, a autonomia energética do edifício teria tido prioridade devido ao retorno imediato”.

A obra, realizada ao longo do último ano, permitiu substituir a cobertura de fibrocimento e cobri-la por painéis fotovoltaicos que garantem o funcionamento das empresas do grupo, entre as 10 e as 19 horas, “sem qualquer consumo da rede elétrica”. Instalou ainda 4 carregadores de viaturas elétricas, dando o pontapé de saída à transição da frota automóvel para energias limpas, e lançou a digitalização de procedimentos administrativos para abolir o papel.

Investir ou não investir 650 mil euros de uma só vez?

“O apoio comunitário acelerou tudo isto e fez-nos avançar em simultâneo com estes dois investimentos e ainda com um terceiro de investigação e desenvolvimento, que, provavelmente, teria de esperar ainda mais”. O executivo da Hubel refere-se ao “Inspect”, um projeto em consórcio com o Instituto Superior de Engenharia da Universidade do Algarve, que vem desenvolvendo no último ano sensores para deteção precoce de avarias em motores de bombas hidráulicas e de sistemas de ventilação e ar condicionado.

“Depois de terem sido concebidos os sensores que implantamos nos motores, os nossos engenheiros estiveram a trabalhar na tradução dos impulsos elétricos gerados por eles em sintomatologia. Temos há cerca de um mês dois protótipos já instalados, um num hotel e outro numa estação elevatória da Águas do Algarve, e estamos na fase de recolha de dados, enquanto a Universidade do Algarve desenvolve um algoritmo preditivo para deteção precoce de avarias”, explica.

Sensores e algoritmo fazem de mecânico

Na prática, o sistema, totalmente digital, é como ter um mecânico em permanência de ouvido no motor, permitindo “antever problemas e reduzir custos de manutenção”, elucida, apontando vantagens transversais aos 3 setores a que a Hubel se dedica.

A investigação ainda tem pela frente mais alguns meses de trabalho, mas já engrossou as equipas de engenharia, graças mais uma vez ao papel dos fundos europeus, que trouxeram 191 mil euros a um orçamento que ultrapassava os 300 mil. Mas, assim “acelerados”, acredita que dentro em breve estarão em condições de poder abrir uma nova frente de negócio.

PRR abre portas às microalgas

Não será a única porta que se abre com o acelerador comunitário. O grupo integra, com duas das suas empresas em consórcio liderado pela também algarvia Nécton, o Pacto da Bioeconomia Azul, a agenda do Plano de Recuperação e Resiliência mobilizadora de 133 milhões de euros para a criação de 52 novos produtos e serviços ligados aos recursos marinhos que prometem avanços na descarbonização.

O conjunto algarvio segue o trilho das microalgas. Num projeto, propõem-se a “usar na produção drenados repletos de nutrientes gerados pela hidroponia”, aponta, explicando que o papel da Hubel será o de “desenvolver soluções de sensórica e de automação que melhorem o processo”. Noutra frente, desenvolvem bioestimulantes (adubos de origem biológica) e bioprotetores (fitossanitários também de origem biológica) a partir de algas e subprodutos destas, que sirvam a agricultura.

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